Eu já quis largar tudo...
queria ser cabeleireira; metade dos profissionais quer mudar de área; decoração pra casa com arte; Sabrina no GNT
Eu já quis largar tudo e virar cabeleireira. Queria ter uma profissão que me permitisse trabalhar em qualquer lugar do mundo, levando comigo somente meu talento, poucos acessórios e uma solução pra uma necessidade coletiva e básica. Seria fácil, eu poderia estar em qualquer cidade por aí, pegar um banquinho e sentar na rua, colocar uma placa e esperar clientes chegarem. Conseguiria um dinheiro para me manter e quando aquela cidade me cansasse, juntaria minhas trouxinhas e partiria para uma nova aventura em um novo lugar. Tudo estava planejado, eu apenas fecharia as portas de onde eu estava, sairia andando sem olhar pra trás e me livraria das angústias que carregava até então. Teria uma vida livre.
Eu só esqueci alguns detalhes. Eu nunca morei fora da minha cidade natal, eu não faço ideia do que seja ser expatriada, eu caso em todo relacionamento que me envolvo, eu não falo outra língua, que guardo até hoje os primeiros trabalhos de uma amiga artista, que tenho diários da infância em uma caixa, que tenho uma mini biblioteca de livros físicos e uma dificuldade tremenda em me conectar com a leitura no kindle. E, principalmente, eu não sei manusear uma tesoura em fios. Quando sonhei em largar tudo eu esqueci que nesse mesmo tudo ainda existe eu, minhas memórias, minha história. E pra isso eu não consigo fechar uma porta e virar as costas.
No desespero de acreditar que fiz tantas escolhas erradas, a vontade era um botão de reset e reinventar uma nova personalidade, com outros sonhos, outras capacidades e que se parece um bocado com uma personagem, não com uma pessoa. Imagino o roteiro, o figurino, o cenário, antagonistas, figurantes, fotografia, iluminação, cortes de cenas, fundos musicais e tom de voz da narração. Como se possível roteirizar uma vida e selecionar somente as cenas com a dramaticidade certa, o tom gostoso de comédia ou o clímax de virada. Crio essa persona baseada num desejo reprimido ou numa sublimação da realidade em que sou outra. Outra que nunca tenha casado tão cedo, que nunca tenha pegue trabalhos tão aleatórios, outra que tenha escolhido outra faculdade, que nunca tenha vivido a noite tão intensamente, que nunca tenha deixado de aprender inglês pq queria as tardes livres, outra que nunca teria largado a dança, que nunca tenha saído da casa da mãe no início da vida adulta, que nunca tenha passado tantos anos com medo de dirigir, que nunca tenha falado o que já disse e nunca tenha agido como agiu, que nunca tenha optado ficar por amor. Outra que nunca tenha sido quem sou.
Finjo ser possível colocar tudo isso numa caixa escura, tampar com fita forte e deixar num canto pra então aventurar numa trajetória completamente nova, sem influência nenhuma de quem já fui e de quem sigo sendo. Sonhar em queimar os rolos antigos e escrever um novo roteiro. Só esqueço que já não se faz mais filme de rolo e tudo o que já foi filmado não se apaga da câmera da memória, e que é impossível começar um roteiro do zero, sem influência ou referência de quem escreve aquela história. Todo personagem tem um passado e vive um presente sem saber no que vai dar aquela escolha pro futuro.
Eu já quis largar tudo. Só esqueci que no tudo ainda existe eu. E não, não vai dar pra largar de mim.
Pelo visto não sou só eu….
Será que eu pensei ser drama existencial e na verdade é só uma consequência da pandemia?
Tudo que é roxo é de clicar
O curso da Marcella Franco que mudou minha relação com minha escrita autoral ainda tá com vagas abertas para o Módulo 1.
O projeto Diálogos Contemporâneos tá rolando em Fortaleza e semana que vem (terça-feira, dia 17) tem bate-papo com Ailton Krenak (com mediação de Talles Azigon). Bora?
Falando em Krenak e em conversas inspiradoras, esse projeto aqui da Trip reúne o pensador indígena, mas também Emicida, Athayde e Neide Santos.
O novo programa da Sabrina Sato no GNT é a união de tudo que eu sou obcecada: acumuladores, desapego, organização, mudança total em casa… quero morar nesse programa!
Casa Chooo - peças decorativas a partir de 18 de maio
Semana passada fotografei a Ju (minha amiga artista e que fez a arte que tá aqui no topo desse news) pra nova coleção de produtos pintados por ela: a Casa Chooo. Foram algumas horas intensas clicando pelo celular um pouco da criação e um pouco da criadora. E eu fiquei tão emocionada com o resultado!
Portando, saibam que a partir do dia 18 de maio tem coleção de acessórios de decoração lindões nesse perfil aqui ó: @ju.chooo
Eu achava que eu era uma pessoa sem raízes e independente (uhhhh). Foi só mudar de país, de carreira e de vida pra perceber que existem coisas que a gente não consegue desapegar. Levei um tempo pra perceber que o vazio que eu sentia era justamente desse "tudo" que eu "larguei" e achava que não era tão importante assim. Fica mais leve quando descobrimos os entulhos que dá pra descartar sem medo e as preciosidades (a.k.a. meus livros hahaha) que vale o esforço de levar nessa mala que a gente carrega pra lá e pra cá.
É bom mudar de ideia, mudar de planos, mudar de lugar. Mas ser fiel ao que a gente é, na essência, pode ser uma forma de ter um lugar quentinho e confortável sempre disponível para voltar sempre que necessário.
Eu larguei tudo - no caso, a carreira - e me permiti começar tudo de novo. Achei que era do zero, mas descobri depois que me carreguei junto na história, com minha experiência. Está sendo delicioso!