Sopram ventos de mudança
Eu me mudo.
Muito.
Um dia achei que me mudava de casa todo ano porque, na real, queria mudar de vida. Só não sabia como.
Mas aí eu mudei de vida. E continuo me mudando de casa todo ano.
Eu me mudo.
Mudo de aparência, corto, pinto, troco a roupa.
Mas a cara no espelho continua minha (diferente de Nando). Nesta só o tempo atua. E o tempo tem o tempo dele que quase nunca é o meu.
Eu me mudo.
Enjoo da minha própria personalidade e tento ser outra.
Aproveito novas casas, novas caras, pra tentar ser uma nova eu. Busco ser mais calma, falar menos, falar baixo, não fazer tanta piada, não me importar tanto com o outro e não revelar tanto de mim no primeiro oi.
Só não dura muito, no máximo o tempo de um próximo corte.
Eu me mudo. Eu me mudo o tempo todo e achava que se mudar era apenas um sinônimo para trocar de residência. Sair de uma casa e entrar em outra. Encaixotar objetos como quem guarda histórias, escolhendo quais memórias merecem seguir e quais deveriam ser descartadas.
Num desejo profundo de que o inconsciente funcionasse da mesma maneira e só lembrasse do que valesse a pena ser lembrado, ou daquilo que não dói, ou do que orgulha e não envergonha.
Mas lembro que digo que ME mudo. Numa ação direta e consciente de mudança.
Eu me mudo querendo ter o controle sobre a impermanência, sobre o inesperado, como se possível fosse. Eu me mudo pra poder sentir a possibilidade de mudar por escolha, por desejo, e não como uma ação da natureza, não por sobrevivência, tal qual uma iguana que muda de cor ou uma cobra que muda de pele. Me mudo para me sentir tão humana e me distanciar do intuitivo. Tão, mas tão humana a ponto de ignorar os instintos, a sensibilidade, de pensar demais e de achar, tal qual os tão tão humanos, que tenho poder de ação sobre tudo.
Eu ME mudo.
Eu me mudo pra assim me permanecer tão previsivelmente a mesma.
As asas da libélula
Uma vez, há quase uma década, uma amiga disse ter tatuado uma libélula pq, ao bater as asas, a libélula sopra ventos de mudança. Nunca esqueci isso e sinto que tenho uma libélula dentro de mim. Sim, pq estou de mudança mais uma vez. Nunca passei mais do que dois anos em um mesmo apartamento desde que saí da casa da minha mãe aos 21 anos pra me casar pela primeira vez. E daí surgiu o texto principal dessa edição.
Pesquisei alguma coisa sobre os tais Ventos de Mudança e achei pouco. Só esse site e esse aqui.
Alguém mais entendido dos significados das coisas pode me contar mais sobre?
Millenial chão de taco prazer
O fato é que nessa nova mudança conquistei um chão de taco pra chamar de meu.
Na foto, o arquiteto Bruno Moitinho na casa nova. Ele que vai transformar esse canto novo num lugar cheio de cor e funcionalidade. E eu poderei ocupar minha mente e meu tempo livre pintando paredes e lixando móveis enquanto finjo que nada mais importa no mundo.