Eu queria que minha analista lesse o que eu escrevo. Narrar um texto perde o sentido no primeiro som saído da boca. O texto fala em outra sonoridade. O som das letras lidas reverbera em outra sinfonia na cabeça.
Eu queria que minha analista lesse a minha cabeça no som do que eu escrevo. Não do que eu falo. Falar ecoa e ler é uníssono. Talvez ela entendesse e eu não a confundisse no que me confunde. Falar é confuso.
Escrever é colocar em ordem. Sem ordem. Ordenar pensamentos. Fora da nova ordem mundial. No papel estou desnuda, na fala me escondo. Me escoro. Dói ouvir o que não se gosta. Escrever, apesar, parece secreto. Como diários com cadeado, aquilo que ninguém lê. E mesmo que, não faria sentido algum. Qual o sentido dessas páginas?
Eu disse uma vez que o que sabia fazer era escrever. Tola. Ninguém sabe escrever. Porque escrita não se domina, não se explica, não se sabe. Ela só é. Só nasce e sai nadando pelas linhas de pauta do caderno. Rasteja deixando lama por onde passa. Numa sujeira na página antes limpa. Não há de se saber escrever pq não se sabe sobre indomáveis.
Queria escrever algo bonito, impactante, interessante. E isso é matar a escrita. Cada vez que me preocupo em como será lida, uma palavra morre.
E se escrevo, dói. Tenho me permitido doer. Eu gostaria muito de colocar a culpa nos astros, esse meu jeito sensível demais ser da lua que resolveu cair em câncer justo na hora em que nasci. Ou mesmo que a culpa seja do Sol, me reconheço na ariana torta que vive de amor profundo. E se sou perecível ao tempo e vivo por um segundo, imagina como é viver no tempo implacável. Já que faz tempo que o tempo não corre no tempo certo.
Somente pensamentos fora de ordem.
O mundo é cheio de ordem. E eu gosto de dar ordem. Queria que minha analista ordenasse o que fazer. Numa lista. E eu ticaria as ordens e me sentiria vitoriosa. Por cumprir ordens. Mas ela nunca fará.
Ela mal fala, não me dá um conselho sequer. O que importa é o que você fala, não o que eu falo. Que graça tem então. Um dia me mandou parar de chorar. Mandou. Feito ordem. Só volta a falar se parar de chorar. Eu engoli. Pra ela e pra quem eu nunca deveria ter derramado uma lágrima. Deve ter funcionado.
Talvez ela não tenha mandado, bem provável que não. Se ela me lesse, saberia que eu ouvi assim. Se minha analista me lesse e soubesse que tem coisa que só digo por escrito, pq tem palavra que não tem som. Se tem som que só o gato ouve tem som que só existe no pensamento e não tem forma de palavra que sai da boca. Mas dá até pra escrever. Queria entregar uma carta e dizer taí essa aí parece muito comigo.
Deuzulivre minha analista ler o que eu escrevo.
Esse texto é a junção de trechos dos meus diários que encontrei recente. Não me reconheci nas palavras, não lembrava de ter escrito nada parecido. Que estranho ler o que se escreve.
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“Mas será que a melhor saída para a conexão humana está na exposição das nossas vulnerabilidades?” - Essa pesquisa da Box1824 explora essa ideia do espetáculo da vulnerabilidade, tanto por influenciadores como pelas marcas. (
Algo parecido com o que acabo fazendo aqui? erh….)Tô viciada nessa moça que é muito criativa na cozinha com receitas vegetarianas. Dá até vontade de comer tofu!
Esse episódio da Rádio Novelo Apresenta que envolve jornalismo, ato falho e Sertão. E ainda tem a história de uma mulher que quase foi apagada da história e sem a qual o Padre Cícero não teria a fama que tem. Uma ruma de Nordeste.
A sala de meditação da Drew Berrymore. “Muitas das cartas são sobre a sombra”, acrescenta ela, um conceito em que a sombra é uma manifestação de “tudo o que não queremos ser, mas tememos ser”.
A palavra não sabe o que diz.
Tem coisas que só a Vani:
Normal, né gente?