O que nunca disse para alguns homens
Respostas nunca dadas, frases nunca ditas, sentimentos nunca externados.
(realidade não é uma opção)
Queria falar que você tá sendo um bosta, mas eu sinto culpa. Eu vi a mensagem que você mandou antes de apagar fazendo um convite inoportuno enquanto eu falava sobre trabalho; E eu não tomaria uma cerveja com você, mesmo se você não fosse casado. A noite foi péssima, a sua performance foi pra você mesmo e não para os dois, eu não gozei e jamais dormiria na sua casa. Ah, e a frase tipo slogan que você usou pra tentar mais uma noite foi tão patética que virou piada. Eu e minhas amigas compartilhamos umas com as outras os inbox que você manda pra todas enquanto posta foto feliz com a namorada. Pelo visto você aprendeu a elogiar. Eu não sou seu braço direito, eu não sou um pedaço do seu corpo. Eu tenho uma função e ela não é servir a você. Eu não estou aqui para cobrir você, não é sobre você, você não é o centro de tudo. Eu não faço parte de você. Muito legal que você leu meu relato sobre assédio e veio dar seu apoio, pena que você é um deles quando me encurralou na parede de uma balada e eu tive que fugir por baixo do seu braço. A você, a amnésia alcóolica conveniente. A mim, a angústia a cada vez que cruzo com você e preciso cumprimentar e fingir cordialidade. Oi, obrigada pelo elogio que você fez sobre mim ao meu chefe na minha frente, mas eu espero que você esteja falando sobre minha capacidade profissional - pena que sei que não é. Você conseguiu tudo o que queria, como sempre, inclusive o direito de permanecer calado, mesmo quando usa meu nome nas suas discussões eternas. Deve ser bom ter o direito de não falar, enquanto eu preciso engolir. Eu nunca esqueci de você bêbado insistindo pra que eu, aos 13 anos, dormisse na sua casa - que era a casa da minha amiguinha. Demorou mais de duas décadas pra eu perceber seu jogo. Legal seus comentários na internet, ali onde todo mundo vê, pena que na vida real você não sabe nada sobre mim e, o que sabe, só critica. Eu queria muito poder te contar quem eu sou hoje, mas fica difícil achar uma brecha enquanto você fala sobre você mesmo. Eu não sou seu espelho, eu não sou um legado. Meu sucesso não é seu, meu fracasso também não. Eu não sou seu brother. Eu sei me virar. Eu esperei o seu apoio. Comigo assim você não fala. Você tem o privilégio da narrativa e da escuta. Queria também. Eu não sou sua mãe. Me desculpa. Eu te odeio, eu odeio carregar isso comigo. Você é medíocre, mas arrota superioridade. Você não tem mais idade pra se autodenominar bobo. Você repete padrões de comportamento e todos eles terminam com uma mulher chorando. Por muito tempo me achei covarde, hoje acho que fui o mais honesta que poderia ser. Eu não sou sua amiga com benefícios. Eu não estou a sua disposição. Eu não sei falar eu te amo sem sentir.
Desculpem o texto sem parágrafo, mas essas respostas nunca dadas e frases nunca ditas martelam minha cabeça nesse formato, embaralhadas, sem rosto definido, entrelaçadas por uma angústia de não poder externalizar cada um desses sentimentos. Por isso, não perca seu tempo tentando saber quem é o que. Todos, no fim, são o mesmo e não é nenhum.
(o alívio cômico)
Sobre mulheres
Essa publicação fantástica da Pri Barbosa (artista visual, muralista e
ilustradora paulistana) sobre o 8 de março.
A Tamara Klink de saco cheio de corresponder a expectativas e saindo correndo (literalmente) de um evento
A Bruna Marquezine também sofre com a síndrome da impostora
Salvei e ainda não ouvi: a conversa do Facundo Guerra com a Barbara Soalheiro e o ranço de ser chamada de chefe
A Monja Cohen falando uns negócio aí que olha…. bateu.
A Moderna Del Pueblo e o maldito choro incontrolável no trabalho
“De vez em quando, o óbvio é quase um segredo: Eu sou finita.” (Tamara Klink)
Se liga nuns cursos
Nada a ver com nada, mas toma aí um curso rápido gratuito sobre Instagram feito pelo próprio Instagram. Vai que você tá precisando!
A Marcella Franco, de quem já fui aluna de escrita e hoje é minha editora na Folha de São Paulo, tá com uma turma especial do Curso de Escrita Criativa Marcella Franco - Módulo Especial Morte. As aulas dela mudaram minha vida, talvez escrever sobre morte mude a sua.
A autora de “A Pediatra” (que citei nessa edição aqui da news sobre Mulheres Cretinas), Andrea Del Fuego fará uma oficina literária via A Escrevedeira. Me inscrevi!
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