Não sigam seus sonhos
...Sigam seus talentos". Essa e outra passagens de livros que foram minhas companhias em tempos inquietos (sim, essa é mais uma newsletter com listas de livros)
Eu havia tirado uma licença do meu antigo trabalho. Na descrição, lá estava ele: transtorno misto de ansiedade e depressão. Eu já não me reconhecia, não estava mais em mim, não sabia quem eu era ou no que havia me tornado.
Ainda sem forças para sair daquele estado, iniciava o tratamento com acompanhamento médico e dias distante do lugar causador de todos os sintomas. Um amigo do ainda emprego me manda uma mensagem particular e diz: separei companhia para você esses dias. Acho que te ajudarão!
Era uma lista com vários livros. Ele, repórter com sensibilidade incrível para a literatura, selecionou títulos que, pelo olhar dele, poderiam me ajudar a sair do mundo real que tanto me doía naquele instante e entrar em um universo paralelo. Aceitei e dei um jeito de pegar os quatro títulos que ele havia selecionado da própria coleção.
Por @disbarbosa
Aqui acho que cabe um adendo: em meio a uma pandemia e a uma crise emocional profunda, ler por diversão vinha sendo a última atividade que eu conseguia desempenhar. Jornalista, precisava resgatar até a última gota de energia para conseguir, ao menos, concluir a minha função como editora que demandava ler com atenção vários textos por dia. Abrir um livro para descansar me soava impensável.
Mas, naquele momento, tentando me manter distante da realidade e já de licença, resolvi tentar.
Foi aí que deu inicio a uma sequência de livros, autores e títulos que pareciam, a todo momento, querer me dizer algo. Óbvio, tudo sugestionado pelo meu próprio desejo de encontrar respostas para as dores que eu sentia, as angústias que não me deixavam. Meu olhar encontrava, em palavras das mais distintas histórias, acolhimento e provocação. Numa busca desesperada por respostas para as perguntas que ainda nem sabia direito quais eram.
Foi aí que mergulhei nos livros e fui conseguindo encontrar meu ritmo de leitura novamente. Meu amigo tava certo: tive excelentes fugas pra lugares muito mais interessantes do que eu me encontrava.
Sei que estamos todos cansados de dicas e que parar pra ler qualquer coisa não tá sendo das tarefas mais fáceis, mas essa news hoje será, sim, de dicas de publicações que tem me acompanhado nos últimos tempos. Junto a elas, trechos que me marcaram em cada leitura.
Ah, pq eu não sei você, mas eu sou das que lê rabiscando. Pra mim não existe essa de segurar o livro com toda delicadeza e não sujar de nada. Eu risco de lápis, caneta, marcador de texto, o que tiver a mão. É meu jeito de mergulhar na história e, cada vez que reabrir, lembrar do que me marcou naquele momento.
Quis compartilhar, então, essas passagens e títulos pra, assim como meu amigo repórter fez comigo, talvez te ajudar a ter uma boa companhia.
Só Garotos - Patti Smith
Foi o primeiro mergulho que dei naquela fase trash em que eu estava. Não conseguia desgrudar os olhos das páginas e acompanhar com euforia a trajetória de Patti e seu companheiro Robert. Eu, que me sentia presa, desejava aquela liberdade de alguém com alma de artista e que não duvidava da própria capacidade.
Só as partes engraçadas - Nell Scovell
Eu sei, esse trecho talvez não seja uma unanimidade. Esse livro encontrei por acaso num passeio por prateleiras da livraria. Nunca havia ouvido falar da autora, muito menos da publicação. Mesmo assim, o título e a temática me chamara a atenção e trouxe pra casa. A trajetória de uma roteirista de humor em hollywood, com todos os percalços pelo caminho, me deu muitos insights pra vida. A perder o medo de fazer graça, a valorizar ainda mais o humor (tema do meu TCC, inclusive) e a observar mais meus talentos. São neles que podem estar minhas respostas, não exatamente em meus sonhos. Quem conseguir unir os dois, saibam que são privilegiados sim!
As inseparáveis - Simone de Beauvoir
Antes de Simone de Beauvoir ser Simone de Beauvoir, ela foi uma adolescente com a cabeça cheia de noias como nós tudim. E teve uma melhor amiga, a Andreé, como grande parte também teve. E essa jovem sofreu um bocado enquanto tentava agradar a todos, corresponder a todas as expectativas, se encaixar nos padrões. Só não achava espaço pra ser ela mesma. Bom, já deu pra notar aí que a leitura foi um festival de gatilhos - mas dos bons.
Primeiro Eu Tive Que Morrer - Lorena Portela
Aqui foi um festival, já que a protagonista sai de um burnout de um agência de publicidade pra iniciar uma jornada de autoconhecimento. O livro da Lorena tem sido recomendado aos 4 cantos e reforço aqui, junto com esse texto lindo escrito pela Roberta Souza numa entrevista com ela.
Pequena Coreografia do Adeus - Aline Bei
Aí é xibatada, viu? Não tem miséria nem alisamento não. Aline é arrebatamento e, nesse novo livro, engloba um tanto de coisa que me identifico: a dança como escape e expressão, relações tortuosas com pai e mãe (quem não), o desejo de escrever e as perdas das relações pelo caminho. Com escrita quase que ritmada, com as letras que dançam pelas páginas, esse livro foi lido num respiro e me deixou sem ar por um tempo.
Um Teto Todo Seu - Virginia Woolf
Essa deixei por último pq, olhe, não teve pra ninguém. Pra alguém que está em busca de se encontrar na própria escrita, ter lido esse livro foi como um sinal imenso do universo me mandando seguir em frente. Poderia citar quase o livro inteiro, mas, além das duas acima, vale sempre lembrar da teoria defendida nessa publicação: toda mulher precisa ter seu próprio dinheiro e um espaço para si. Virgina, mulher, tu me lasca.
Quero ler em breve:
A Pediatra - Andrea Del Fuego: promete muito sarcasmo na história de uma pediatra que não gosta de crianças
Lacan Ainda: Testemunho de Uma Análise - Betty Milan: esse já baixei no kindle, sobre as sessões que a autora teve com o psicanalista
Tête-à-Tête - Hazel Rowley: dando continuidade a publicações sobre relações da filósofa (esse emprestado da minha mãe)
Vocês ainda aguentam dicas?
Essa edição foi já um grande apurado, mas vamos aos links gostosos
Essa cebolinha em conserva pra já ter tempero pronto na geladeira
Jornadas ininterruptas e cada um por si: o ''novo normal'' do trabalho na imprensa sob pandemia: preciso nem dizer nada sobre essa matéria
Meu texto na Bemdito sobre relacionamentos fora da caixa puxando o gancho de artistas que vem falando sobre poliamor, relacionamento aberto entre outras possibilidades
Infelizmente caí no desejo de assistir “Casamento às Cegas” e estou viciada. O famoso “é tão ruim que é bom” (e nós odiamos o Thiagão)
Esse episódio da Mônica Martelli no Calcinha Larga contando como ela iniciou a carreira tá sen-sa-cio-nal. E o conselho dado pela mãe dela pode ser tudo o que a gente precisa ouvir nesse momento
Passando o chapéu ou a hora do pix
Tal qual um artista que se apresenta na rua e deixa o chapéu para quem quiser colaborar, abro meu pix para quem quiser apoiar essa publicação independente e autoral: gabidourado@gmail.com (Nubank) - que também é meu e-mail pra gente trocar ideia.
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