Eu já ensaiei respostas pra suas mensagens que nunca chegaram
Escrever tangibiliza pensamento. E tem coisa que não quero pegar.
Eu queria te mandar uma mensagem
Queria receber uma mensagem sua querendo conversar
Para você eu responderia não me interessa obrigada
Para você eu responderia até que enfim por que demorou tanto
Eu te mandei uma mensagem
Determinei um fim. Você entendeu outro. Não foi esse que eu pedi.
Eu te mandei uma mensagem
Te pedi pra me entender
Disse que entendia que era amor
Mas que eu não queria
Não assim, não agora, não daquele jeito
Não a quilômetros de distância sem poder fugir
Tem horas que é preciso ter como fugir
A rota de fuga é o que alivia o medo do caminho
Sem ter saída, não vou
Não sei quem são, terei que fingir e não tenho forças agora
Pra fazer graça, rir, parecer interessante
Eu só queria poder ser eu e garanto que sinto muito, esse eu você não quer conhecer
Ele conhece. E fica. Você foge. Sendo que você, veja só, teria a rota de fuga. Eu não. Dormindo sozinha enquanto cada um deita no peito dos seus.
Eu já ensaiei respostas pra suas mensagens que nunca chegaram.
Eu digo que não me interessa, não quero saber, não me importa o que pensa, pode continuar onde está. O fim está posto e determinado, como antes não aconteceu. O nosso fim. Aquele que você invadiu com uma mensagem da última vez. Não se invade um fim. Como pôde interromper assim o meu nosso fim.
Eu direi que não me importo e estará evidente que é mentira. Eu já me mostrei a você me arrependo porém. Você saberá que é mentira e seu olho dará uma volta em si e eu sei consigo ver daqui. Eu direi não me interessa o que você acha. Você sabe.
Todo dia eu lembro da sua mensagem. Não te desculpo por ser assim. Não tenho porque. Eu só não sabia que você era assim, nem você a mim. E nós, sem rotas de fuga, nem entramos no caminho.
Eu lembro todo dia do seu silêncio. Confortável, cômodo, covarde. Eu te disse o que eu sentia. Você calou. Eu te disse o que eu sentia. Você desaprovou. Eu te disse o que eu sentia. Você sumiu. Eu te disse o que eu sentia. Você riu. Eu te disse o que eu sentia. E não era.
Eu ensaiei a mensagem. Escrevi num papel depois de falar com ela. Foi de uma vez, eu, a caneta, o papel, e você. Eu ensaiei a mensagem. Digitei depois de falar com elas. Eu tirei a que dizia você mentiu. Tirei a que dizia tá ruim pra você. Nenhum ensaio me preparou pra resposta. Nenhum ensaio me preparou pro silêncio. Nenhum ensaio me preparou pra angústia, pra vergonha, pra raiva. Sem ensaio como seria. Melhor talvez. Talvez nem existisse pq sem ensaio não tem encenação. E eu menti. Fingi. Como num palco. Com roteiro ensaiado. Sem plateia. Virou monólogo. Virou curta.
Eu pedi calma. Mas não me peça.
Calma.
Um dia você me escreve.
E eu direi não me importo.
Direi saudade.
Direi vem aqui, queria te contar tudo o que vi.
Não me pergunte a quem. Não é pra você.
…
Desculpe a obra, estamos em transtorno. Já entendi que por aqui não há frequência porque em mim não há frequência no que não se encomenda. O texto grita e arde quando quer. Às vezes entala e não tenho coragem de tornar o sentimento real. Escrever tangibiliza pensamento. E tem coisa que não quero pegar.
Eu acho…
… que você deveria assistir Cangaço Novo
… que você iria gostar de saber quem é Jô Feitosa e que a história dela vai virar espetáculo
… aprender a fazer esse molho pra legumes assados
… que uma mulher no mar menstrua
… que seu processo criativo parece com o de muita gente
… que você vai gostar de chorar com a última temporada de sex education
É bom te ver aqui.
Você falou por mim esse texto!
Quase que de mim para um des-alguém. Muito bom !