Chamei de medo tudo aquilo que não sabia nomear. E não é isso, então, o próprio medo? O desconhecido se reconhece em forma de pavor.
Pensava, ainda, a única resposta ao medo ser a coragem.
Bobagem, eu diria hoje.
Medo nem precisa de respostas, às vezes. E a coragem, aí, nem sempre é a melhor - ou a única.
Talvez porque não se dá nem espaço pra ele, o medo, pois a coragem vai e ganha todos os louros das conquistas - sendo o medo o primeiro aviso. e assim, só assim, com ele, é possível olhar outros caminhos.
No rumo da coragem só se olha pra frente, só se pula sem ver fundo, só conta até dois porque no três já foi. No sinal de medo se protege, olha pros lados, recua, pondera, espera, avisa, ouve. No respirar acelerado da falta de resposta, uma vez optei por… parar.
Fiquei boa em desistir. Em sair de perto. Em calar para me ouvir. Sempre fui ótima em enfrentar, seguir, chutar. Mas um dia só quis parar. Chamei de medo, olha só. Chamei de medo e quis dar a única resposta que eu conhecia. E me perdi. Aperfeiçoei então o correr, o fugir, o parar, o abandonar, o ignorar.
Passei a renomear o que antes era medo - ou que nome não tinha e portanto virava medo.
Já chamei de medo o que era intuição. Para a qual a resposta deveria ter sido um não.
Já chamei de medo o que era trauma. Cuja resposta devia ser abraço.
Chamei de medo o que era dor. Pra ela resposta seria acalento.
Chamei de medo o que era angústia. E pra essa não tem resposta.
Chamei de medo o que era saudade. E saudade só se responde com presença.
Chamei de medo o que era percepção. Só se encontra resposta se for atento.
Já chamei de medo o que era vergonha. E nem sei se resposta tem, mas pode ser saber-se bobo ou desimportante.
Dei nome de medo o que era palpitação. E a resposta, tem vezes, é dançar.
Chamei de medo o que era insegurança. Não a do mundo, que pode ser sinônimo. Mas a de dentro. E a resposta pode ser fingir.
Uma vez chamei de medo o amor. E pra amor só se responde com um sim.
E com medo eu vim pra São Paulo. Vim estudar, viver, experimentar. Tive medo de vir, da primeira noite, da primeira semana, da primeira aula. Tudo isso já vivi e, então, o medo passou. E não consigo chamar de coragem todo esse movimento pq percebi que, sim, tinha um bocado de medo, mas tinha outros tantos sentimentos também. E fui respondendo com abraço, com acalento, com presença, com dança e com, também, fingimento.
“Estar em outro lugar, quase sempre com o desejo de poder viver outra coisa. Ser outra coisa. Outra pessoa, quem sabe. Mesmo que por uns dias, mesmo que rapidinho, naquele instante que me dá a ilusão de que não estou preso no meu ser (…) A gente se joga sempre na estrada, como se ela fosse a esperança de construir uma nova perspectiva, uma linha de fuga”.
Maria Homem, em coluna na Revista Gama
Max Petterson e o medo respondido com ignorância
Escrevendo aqui, lembrei das respostas do Max Petterson nesse podcast, quando ele fala que se livrou de sentir medo por simples ignorância dos riscos. E achei uma boa resposta - não era coragem, era desconhecimento. Funcionou.